Perguntas frequentes
A esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, afeta cerca de 30% dos brasileiros e normalmente não dá sintomas, como boa parte das doenças do fígado. É detectada na maioria das vezes durante exames de check-up ou durante a investigação de alguma outra condição clínica.
Sua principal causa é a presença da síndrome metabólica, ou seja, pacientes com obesidade, diabetes ou pré-diabetes, aumento dos níveis de colesterol e/ou triglicerídeos e hipertensão arterial. Até 70% dos pacientes diabéticos apresentam esteatose. Além disso, a ingestão de bebida alcoólica e alguns medicamentos também podem estar envolvidos.
Importante destacar que embora ela seja reversível, se houver modificação do estilo de vida e controle das comorbidades, de forma silenciosa a esteatose pode, através da indução de uma inflamação crônica do fígado, evoluir para a cirrose e até mesmo câncer de fígado.
Por isso a importância de consultas periódicas e check-ups acompanhados da realização de ultrassom de abdome e dosagem das enzimas do fígado, em especial na população de risco (como os portadores de obesidade, diabéticos, etilistas).
Definitivamente não. E atenção, nem tudo que é natural faz bem e boa parte dos chás, ervas, fitoterápicos, suplementos e vitaminas podem induzir ou agravar uma inflamação hepática preexistente (o fígado é silencioso e muitas vezes alguns problemas já estão lá e não sabemos).
Essas substâncias são metabolizadas pelo fígado, o principal órgão responsável pela “desintoxicação” do corpo e, muitas vezes, o sobrecarregamos ingerindo compostos contendo várias plantas, com a seleção inadequada da porção atóxica da mesma, podendo ainda haver contaminação química e/ou por micro-organismos em virtude do armazenamento inadequado.
As hepatites induzidas por chás podem não causar sintomas, manifestando-se apenas através de alterações das enzimas hepáticas (que se não forem dosadas no sangue, o diagnóstico não será feito) ou podem ter espectro clínico variado, causando desde hepatites agudas, de evolução benigna ou na forma grave, induzindo à hepatite crônica, cirrose hepática, transplante de fígado e/ou óbito.
A hepatotoxicidade desses compostos é de difícil comprovação, pois a automedicação é frequente e o paciente em geral não informa seu uso a seu médico.
Além disso, muitos produtos naturais podem interagir com medicamentos tradicionais, interferindo no seu metabolismo e modificando sua ação terapêutica ou acentuando seus efeitos tóxicos para o fígado.
Confira no artigo abaixo a lista de chás com maior potencial de induzir inflamação no fígado:
https://www.sbhepatologia.org.br/cientifico/ged/volume30/6.pdf
A quantidade segura ingerida depende do gênero, de fatores genéticos, ambientais e psicossociais. De modo geral, o limite aceitável para a OMS (Organização Mundial de Saúde) é de cerca de 30g de etanol por dia, considerando um adulto saudável e sem outras doenças de base.
Uma dose padrão tem aproximadamente 15g de álcool ou, em termos práticos, 350mL de cerveja (~ 5% de álcool), 150mL de vinho de mesa (~ 12% de álcool) ou 40 mL de destilados – vodka, whisky e cachaça (~ 45% de álcool). Sendo assim, o limite de consumo seria em torno de 2 latas de cerveja/dia ou 300mL de vinho de mesa/dia ou 80mL de destilados/dia.
Já a estimativa de dose consumida para induzir à cirrose hepática seria de cerca de 80g/dia por 10 anos, o equivalente a 3 garrafas de cerveja/dia ou 5 latas de cerveja/dia ou 5 taças de vinho de mesa/dia ou 5 doses de cachaça/dia ao longo de 10 anos.
*Para mulheres, devemos reduzir esses números em 20%.
Os jovens universitários são considerados a população mais vulnerável ao consumo de bebidas alcoólicas e este pode interferir no desempenho acadêmico dos estudantes, expor os jovens a acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco, gravidez não planejada, violência, ferimentos não intencionais, entre outros.
Por isso não é clichê falar “beba com moderação”. Buscar o equilíbrio é fundamental para a manutenção da nossa saúde física e mental.
Na grande maioria das vezes não. Apesar da ferritina alta poder indicar sobrecarga de ferro no organismo, isso só é visto em 5 a 10% dos casos. Nesse contexto, precisamos avaliar também o índice de saturação da transferrina, em conjunto com os demais exames, para direcionarmos nossa conduta.
Na maioria dos pacientes o aumento da ferritina está associado a um processo inflamatório, cujas principais causas são: doença hepática alcoólica; doença hepática gordurosa metabólica (esteatose hepática = gordura no fígado); doenças autoimunes; infecções agudas ou crônicas; neoplasias (tumores); doenças sistêmicas crônicas (diabetes, por exemplo); sobrecarga de ferro (hemocromatose primária ou secundária). No consultório do Hepatologista, a causa mais comum de hiperferritinemia é a doença hepática metabólica gordurosa, algumas vezes agravada pelo consumo abusivo de álcool. O tratamento é individualizado e direcionado conforme a causa (ou causas) e inclui mudanças no estilo de vida, suspensão do álcool, controle do diabetes, dentre outros, ficando a sangria reservada apenas para os casos de sobrecarga de ferro, que são a minoria.
Definitivamente não. Já faz algum tempo que recebo questionamentos durante as consultas sobre a efetividade do “protocolo de limpeza do fígado e vesícula biliar”, que promete eliminar cálculos biliares por meio das fezes, de forma indolor, após um período de ingestão de suco de maçã, hidróxido de magnésio, azeite de oliva e frutas cítricas (podem existir variações nos ingredientes). Além de não haver comprovação científica da sua eficácia, ele também pode ser prejudicial a saúde.
Em um artigo científico publicado no jornal The Lancet em 2005, pesquisadores constataram que o que os adeptos expelem nas fezes não são cálculos biliares, mas sim “resíduos” daquilo que foi ingerido (ácidos graxos), comprovando que esse protocolo é um mito e as alegações feitas por alguns, enganosas.
Destaco ainda que ao “hiperestimular” a vesícula na presença de cálculos, pode-se desencadear a migração e impactação dos mesmos, a depender do seu tamanho, em alguns pontos críticos da via biliar, levando a inflamações e/ou infecções potencialmente graves. Na lista das principais complicações estão: colecistite, colangite e pancreatite aguda biliar.
Para evitar que isso ocorra, evite os tratamentos ditos “caseiros” antes de consultar um especialista.
Lembre-se: tanto o fígado quanto a vesícula biliar não necessitam de nenhum tipo de limpeza, mas sim, de hábitos saudáveis. Uma dieta equilibrada, rica em fibras e pobre em gorduras, açúcares e carboidratos, feita em intervalos regulares, baixo consumo de bebida alcoólica, prática de atividade física regular, uma boa hidratação e noite de sono são o segredo para mantermos nossa saúde em dia. Se quiser ler na íntegra o artigo publicado no The Lancet (está em inglês), clique aqui:
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140673605663738/fulltext